Kika Seixas relata sua trajetória de amor e desafios ao lado de Raul Seixas

Raul Seixas e Kika Seixas

Lidar com o alcoolismo é uma tarefa árdua. Essa condição é uma enfermidade que não apenas impacta o alcoólatra, mas toda a família. O sofrimento é incessante, repleto de expectativas frustradas e promessas não cumpridas. Eu vivenciei isso... A pessoa precisa estar disposta a não se entregar ao álcool, do contrário, ela se isola no banheiro ou camarim antes do show para beber. Como eu poderia lidar com isso? Eu estava envolvida na produção, na bilheteria. Enfim, após um ano juntos, percebi que não se tratava apenas de um vício.

Ele começava o dia bebendo, às oito, nove da manhã. Chegamos a São Paulo, e ele teve uma crise no pâncreas, sendo necessário retirar parte da glândula. O médico aconselhou-o a nunca mais beber. Seis meses após o procedimento, ele voltou a beber, como se nunca tivesse sido operado. Quebrou a promessa feita ao médico, não a si mesmo. Faltou humildade.

Quando descobri que ele estava entregue ao álcool, permaneci ao seu lado, esperançosa de que o nascimento da Vivi e a recuperação da carreira, durante o período do “Plunct, Plact, Zum”, fossem suficientes. Experimentamos sucesso financeiro e voltamos a realizar shows, mas novamente nem o êxito, nem o amor, nem a família eram o bastante. Infelizmente... Em um capítulo do livro, abordo esse período. Quando pensei que ele havia atingido o fundo do poço, ele cavou ainda mais fundo.

Houve internações, hábitos destrutivos. Vivi, com apenas 3 anos, via o pai dessa forma, um pai que fugia de suas responsabilidades, pois ela o via embriagado em casa. Ali, testemunhamos a decadência de um homem que amei intensamente, a decadência de um artista genial, alguém que não tinha forças para subir ao palco. Prometemos envelhecer juntos, tínhamos tantos planos. Foi uma desilusão total, uma quebra como ser humano.

O Raul artista suplantou o Raul pessoa. Ele já acordava pela manhã consumindo sua mistura de vodka com coca-cola, transformando-se em um personagem, já não sendo o Raul que levava Vivi para a escola.

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